Ela está no noticiário quase todo dia por ter assumido um ministério que o presidente Jair Bolsonaro criou para ser emblemático de seu governo, notoriamente conservador. Por muito tempo, o que qualquer pessoa, em qualquer cargo no governo atual do país, disser ou fizer vai ser notícia. As pouquíssimas mulheres – inclusive por serem pouquíssimas – são destacadas. Pelo que dizem, fazem, vestem, e até pelo que creem. Da primeira-dama, com seu vestido, seu discurso em Libras, sua idade, até Damares Alves, a advogada e pastora evangélica militante antiaborto, contra a ideologia de gênero e defensora da escola sem partido, que assumiu o ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, com sua visão de Jesus no pé de goiaba (isso só entendem os crentes ou quem já esteve na desesperada situação de se matar) e sua empolgação ao emprestar aos novos tempos bolsonarianos uma imagem contestada pelo movimento progressista da sociedade.
Virou meme a sua fala de que começou uma nova era, em que “menino veste azul e menina veste rosa”. Percebendo que propôs um estereótipo ultrapassado, a ministra explicou que fez apenas uma metáfora. “Fiz uma metáfora contra a ideologia de gênero, mas meninos e meninas podem vestir azul, rosa, colorido, enfim, da forma que se sentirem melhores”, disse ela por meio de sua assessoria de imprensa, sem consertar muito o que disse. Damares também foi castigada nas redes sociais por ter dito que “o Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã”. Pegou mal o uso do adjetivo terrível, cujos significados todos são negativos. E outros virão, certamente. Frases e atitudes que serão contestadas, pela razão de manifestarem pensamento estranho à noção de governo e sociedade que se vinha construindo.
Entretanto, a proposta deste artigo não é analisar, por enquanto, a filosofia e as atitudes religiosas da ministra. A intenção é pensar na Damares que conhece Vitória da Conquista e se ela pode interferir na política local, ajudando o governo municipal ou emprestando apoio a algum nome que vai estar na disputa das eleições de 2020. A ministra tem vindo à cidade, onde tem amigos desde a infância, com alguma frequência. Aqui fez palestras em igrejas, como a Batista Sião, onde falou sobre ideologia de gênero, o famigerado “kit gay” e sobre a cultura indígena. Damares não é mais pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular, mas da Batista Lagoinha, a mesma do pastor Márcio Valadão, pais dos popstars do gospel evangélico, André e Ana Paula Valadão.
O BLOG resolveu saber mais da relação da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos depois que recebeu uma mensagem por WhatsApp de uma das principais autoridades de Vitória da Conquista, autoridade em quase todas as acepções da palavra, oficialmente, pelo que faz e por entender muito de política. “Bom Dia! Você sabia que a pastora Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do Governo Bolsonaro, já residiu em Vitória da Conquista, no Bairro Sumaré? Ela é sobrinha do Pastor Josué Bengtson, que fundou aqui a Igreja do Evangelho Quadrangular, no final dos Anos 60. Na década seguinte, o Pastor Josué foi para o Pará, onde se elegeu inúmeras vezes deputado federal”, disse a fonte, completando: “A pastora Damares vai incluir Vitória da Conquista no mapa do presidente Bolsonaro e do general Mourão…”
Será?
Ouvimos três pessoas que conviveram com Damares Alves e que ainda mantêm contato com ela. Só o pastor Juarez Nascimento, da Igreja do Evangelho Quadrangular, a mesma de que ela fazia parte, aceitou que a nossa conversa fosse publicada com identificação. As outras duas são, como Juarez, da mesma religião que a ministra, mas só uma também fequentou a mesma igreja. Uma delas, que conviveu com Damares quando ela morou em Vitória da Conquista, disse que ela é “uma pessoa simples, mas preparada”, considerando Damares qualificada para o cargo porque “já vem atuando nestas questões há anos e realmente ama esta causa. Agora, ela tem autoridade (secular, porque espiritual já possuía) constituída para levar adiante a ‘bandeira de preservação das nossas famílias’, com mais coragem e força”.
A terceira pessoa com quem falamos não conheceu a Damares menina, mas esteve com ela quando visitou Vitória da Conquista. “Eu sei que ela é uma pessoa leal à história, aos amigos, à família e à Igreja de Cristo”, afirmou. Na opinião desta fonte quando Damares Alves retornou a Conquista e reencontrou os amigos e irmãos de igreja demonstrou toda sua simplicidade e carinho. “Tenho certeza de que nossa cidade vai ganhar com ela no ministério. Ela tem a confiança não apenas de evangélicos e isso todos vão ver com o tempo”.
O pastor Juarez Nascimento também acredita, como os demais, que a pastora Damares Alves vai ter um olhar especial para Vitória da Conquista. Juarez conta que em 1970 o missionário Josué Bengtson, convidou o missionário Henrique Alves, pai de Damares, para ser seu auxiliar na abertura da Igreja do Evangelho Quadrangular em Vitória da Conquista. “Aqui o missionário Henrique e sua família, D. Guilhermina, a esposa, e os filhos Dionísio, Damares e Daniel moraram por dois anos”, narra. A ministra Damares Alves tinha seis anos de idade quando morou em Conquista. Depois se mudou com os pais e os irmãos para Feira de Santana, em seguida para Aracaju (SE). Adulta, morou em São Carlos (SP) e depois em Brasília (DF). Damares Alves é divorciada e tem uma filha indígena adotada.
Segundo o pastor, a família da hoje ministra passou por algumas necessidades logo que chegou a Conquista, “inclusive de alimentos. Eles moraram numa casa que meu pai cedeu pra eles a custo zero, e eram sustentados por cestas básicas doadas por frequentadores do culto”, conta Juarez. Ele relata que Damares sempre demonstrou gratidão pela acolhida que Vitória da Conquista e a igreja deram a sua família. Depois de adulta, ela esteve na cidade algumas vezes para fazer palestras. “Veio também uma vez trazida por pastores na campanha de Herzem para prefeito e esteve na ocasião da minha candidatura a Vereador, quando deu palestra em algumas igrejas”.
Para Juarez, se houver algo que a ministra possa fazer por Vitória da Conquista fará. “Sei que agora, com as diversas atribuições do cargo de ministra, ela não vai poder vir quando a gente solicitar, mas se tiver alguma coisa no ministério dela que abrange Vitória da Conquista com certeza ela trará de maneira especial”, confia. “Da vez que ela veio me ajudar na campanha para vereador, fomos no restaurante de D. Ana, lá no mercado da feirinha, comer sarapatel, rabada e costelinha de porco frita, e compramos goma fresca para fazer beiju”, relembra o pastor. “Ela é uma pessoa muito simples e especial, amiga de verdade, entro sempre em contato com ela. Ela e a família não esquecem Conquista, o pai dela esteve aqui há dois anos para lançar seu livro autobriográfico ‘O administrador de Deus’”.
Em 2016, a atual ministra Damares Alves esteve em Vitória da Conquista para participar de um evento da campanha a vereador do pastor Juarez Nascimento (SD), para quem gravou um vídeo de apoio. // Informações do Blog do Rodrigo Ferraz.